o que vocĂȘ entende sobre filosofia?

 

 o que vocĂȘ entende sobre filosofia?

 

Filosofia


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Filosofia

Auguste Rodin - Grubleren 2005-02.jpg
O pensador, de Auguste Rodin, representação clåssica de um homem imerso em pensamentos.
Origem do nome ΊÎčÎ»ÎżÏƒÎżÏ†ÎŻÎ±, Grego
Origem  GrĂ©cia
 Ăndia
 China
 JapĂŁo
InfluĂȘncias Mitologia
Orfismo

Teologia
Influenciados CiĂȘncia
PolĂ­tica

Principais nomes SĂłcrates
PlatĂŁo

René Descartes

entre outros
É o (em geral Ă©) Estudo de problemas fundamentais relacionados Ă  existĂȘncia, ao conhecimento, Ă  verdade, aos valores morais e estĂ©ticos, Ă  mente e Ă  linguagem.
Conhecida por ser por estimular o pensamento lĂłgico e crĂ­tico
Povo que o(a) originou  GrĂ©cia
Pretende Construir concepçÔes abrangentes de mundo
Divida entre Filosofia ocidental
Filosofia oriental
Weltanschauung

Filosofia (do grego ΊÎčÎ»ÎżÏƒÎżÏ†ÎŻÎ±, literalmente «amor Ă  sabedoria») Ă© o estudo de problemas fundamentais relacionados Ă  existĂȘncia, ao conhecimento, Ă  verdade, aos valores morais e estĂ©ticos, Ă  mente e Ă  linguagem.[1] Ao abordar esses problemas, a filosofia se distingue da mitologia e da religiĂŁo por sua ĂȘnfase em argumentos racionais; por outro lado, diferencia-se das pesquisas cientĂ­ficas por geralmente nĂŁo recorrer a procedimentos empĂ­ricos em suas investigaçÔes. Entre seus mĂ©todos, estĂŁo a argumentação lĂłgica, a anĂĄlise conceptual, as experiĂȘncias de pensamento e outros mĂ©todos a priori.

A filosofia ocidental surgiu na GrĂ©cia antiga no sĂ©culo VI a.C. A partir de entĂŁo, uma sucessĂŁo de pensadores originais - como Tales, XenĂłfanes, PitĂĄgoras, HerĂĄclito e ProtĂĄgoras - empenhou-se em responder, racionalmente, questĂ”es acerca da realidade Ășltima das coisas, das origens e caracterĂ­sticas do verdadeiro conhecimento, da objetividade dos valores morais, da existĂȘncia e natureza de Deus (ou dos deuses). Muitas das questĂ”es levantadas por esses antigos pensadores sĂŁo ainda temas importantes da filosofia contemporĂąnea.[2]

Durante as Idades Antiga e Medieval, a filosofia compreendia praticamente todas as ĂĄreas de investigação teĂłrica. Em seu escopo figuravam desde disciplinas altamente abstratas - em que se estudavam o "ser enquanto ser" e os princĂ­pios gerais do raciocĂ­nio - atĂ© pesquisas sobre fenĂŽmenos mais especĂ­ficos - como a queda dos corpos e a classificação dos seres vivos. A partir do sĂ©culo XVII, vĂĄrios ramos do conhecimento se desvencilharam da filosofia e se constituĂ­ram em ciĂȘncias independentes com tĂ©cnicas e mĂ©todos prĂłprios (geralmente priorizando a observação e a experimentação). Apesar disso, a filosofia atual ainda pode ser vista como uma disciplina que trata de questĂ”es gerais e abstratas que sejam relevantes para a fundamentação das demais ciĂȘncias particulares ou demais atividades culturais. A princĂ­pio, tais questĂ”es nĂŁo poderiam ser convenientemente tratadas por mĂ©todos cientĂ­ficos.

Por razĂ”es de conveniĂȘncia e especialização, os problemas filosĂłficos sĂŁo agrupados em subĂĄreas temĂĄticas: entre elas as mais tradicionais sĂŁo a metafĂ­sica, a epistemologia, a lĂłgica, a Ă©tica, a estĂ©tica e a filosofia polĂ­tica.

Índice



Introdução


As inĂșmeras atividades a que nos dedicamos cotidianamente pressupĂ”em a aceitação de diversas crenças e valores de que nem sempre estamos cientes. Acreditamos habitar um mundo constituĂ­do de diferentes objetos, de diversos tamanhos e diversas cores. Acreditamos que esse mundo organiza-se num espaço tridimensional e que o tempo segue a sua marcha inexorĂĄvel numa Ășnica direção. Acreditamos que as pessoas ao redor sĂŁo em tudo semelhantes a nĂłs, veem as mesmas coisas, tĂȘm os mesmos sentimentos e sensaçÔes e as mesmas necessidades. Buscamos interagir com outras pessoas, e encontrar alguĂ©m com quem compartilhar a vida e, talvez, constituir famĂ­lia, pois tudo nos leva a crer que essa Ă© uma das condiçÔes para a nossa felicidade. Periodicamente reclamamos de abusos na televisĂŁo, em propagandas e noticiĂĄrios, na crença de que hĂĄ certos valores que estĂŁo sendo transgredidos por puro sensacionalismo. Em todos esses casos, nossas crenças e valores determinam nossas açÔes e atitudes sem que eles sequer nos passem pela cabeça. Mas eles estĂŁo lĂĄ, profundamente arraigados e extremamente influentes. Enquanto estamos ocupados em trabalhar, pagar as contas ou divertir-nos, nĂŁo vemos necessidade de questionar essas crenças e valores. Mas nada impede que, em determinado momento, façamos uma reflexĂŁo profunda sobre o significado desses valores e crenças fundamentais e sobre a sua consistĂȘncia. É nesse estado de espĂ­rito que formularemos perguntas como: “O que Ă© a realidade em si mesma?”, “O que hĂĄ por trĂĄs daquilo que vejo, ouço e toco?”, “O que Ă© o espaço? E o que Ă© o tempo?”, “Se o que aconteceu hĂĄ um centĂ©simo de segundo atrĂĄs jĂĄ Ă© passado, serĂĄ que o presente nĂŁo Ă© uma ficção?”, “SerĂĄ que tudo o que acontece Ă© sempre antecedido por causas?”, “O que Ă© a felicidade? E como alcançå-la?”, “O que Ă© o certo e o errado?”, “O que Ă© a liberdade?”.


Paul Gauguin, De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? (1897/98).

Essas perguntas sĂŁo tipicamente filosĂłficas e refletem algo que poderĂ­amos chamar de atitude filosĂłfica perante o mundo e perante nĂłs mesmos. É a atitude de nos voltarmos para as nossas crenças mais fundamentais e esforçar-nos por compreendĂȘ-las, avaliĂĄ-las e justificĂĄ-las. Muitas delas parecem ser tĂŁo Ăłbvias que ninguĂ©m em sĂŁ consciĂȘncia tentaria sinceramente questionĂĄ-las. Poucos colocariam em questĂŁo mĂĄximas como “Matar Ă© errado”, “A democracia Ă© melhor que a ditadura”, “A liberdade de expressĂŁo e de opiniĂŁo Ă© um valor indispensĂĄvel”. Mas, a atitude filosĂłfica nĂŁo reconhece domĂ­nios fechados Ă  investigação. Mesmo em relação a crenças e valores que consideramos absolutamente inegociĂĄveis, a proposta da filosofia Ă© a de submetĂȘ-los ao exame crĂ­tico, racional e argumentativo, de modo que a nossa adesĂŁo seja restabelecida em novo patamar. Em outras palavras, a proposta filosĂłfica Ă© a de que, se Ă© para sustentarmos certas crenças e valores, que sejam sustentados de maneira crĂ­tica e refletida.

Muitos autores identificam essa atitude filosófica com uma espécie de habilidade ou capacidade de se admirar com as coisas, por mais prosaicas que sejam. Na base da filosofia, estaria a curiosidade típica das crianças ou dos que não se contentam com respostas prontas. Platão, um dos pais fundadores da filosofia ocidental, afirmava que o sentimento de assombro ou admiração estå na origem do pensamento filosófico:

"A admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia."
— Platão, Teeteto.[3]

Na mesma linha, afirmava AristĂłteles:

"Os homens começam e sempre começaram a filosofar movidos pela admiração."
— Aristóteles, Metafísica, I 2.[4]

Embora essa capacidade de admirar-se com a realidade possa estar na origem do pensamento filosĂłfico, isso nĂŁo significa que tal admiração provoque apenas e tĂŁo somente filosofia. O sentimento religioso, por exemplo, pode igualmente surgir dessa disposição: a aparente perfeição da natureza, as sincronias dos processos naturais, a complexidade dos seres vivos podem causar profunda impressĂŁo no indivĂ­duo e levĂĄ-lo a indagar se o responsĂĄvel por tudo isso nĂŁo seria uma InteligĂȘncia Superior. Uma paisagem que a todos parecesse comum e sem atrativos poderia atrair de modo singular o olho do artista e fazĂȘ-lo criar uma obra de arte que revelasse nuances que escaparam ao olhar comum. Analogamente, embora a queda de objetos seja um fenĂŽmeno corriqueiro, se nenhum cientista tivesse considerado esse fenĂŽmeno surpreendente ou digno de nota, nĂŁo saberĂ­amos nada a respeito da gravidade. Esses exemplos sugerem que, alĂ©m de certa atitude em relação Ă  nossa experiĂȘncia da realidade, hĂĄ um modo de interpelar a realidade e nossas crenças a seu respeito que diferenciariam essa investigação da religiĂŁo, da arte e da ciĂȘncia.

Ao contrĂĄrio da religiĂŁo, que se estabelece entre outras coisas sobre textos sagrados e sobre a tradição, a filosofia recorre apenas Ă  razĂŁo para estabelecer certas teses e refutar outras. Como jĂĄ mencionado acima a filosofia nĂŁo admite dogmas. NĂŁo hĂĄ, em princĂ­pio, crenças que nĂŁo estejam sujeitas ao exame crĂ­tico da filosofia. Disso nĂŁo decorre um conflito irreconciliĂĄvel entre a filosofia e a religiĂŁo. HĂĄ filĂłsofos que argumentam em favor de teses caras Ă s religiĂ”es, como, por exemplo, a existĂȘncia de Deus e a imortalidade da alma. Mas um argumento propriamente filosĂłfico em favor da imortalidade da alma apresentarĂĄ como garantias apenas as suas prĂłprias razĂ”es: ele apelarĂĄ somente ao assentimento racional, jamais Ă  fĂ© ou Ă  obediĂȘncia.[5]

Os artistas assemelham-se aos filĂłsofos em sua tentativa de desbanalizar a nossa experiĂȘncia do mundo e alcançar assim uma compreensĂŁo mais profunda de nĂłs mesmos e das coisas que nos cercam. Mas a forma em que apresentam seus resultados Ă© bastante diferente. Os artistas recorrem Ă  percepção direta e Ă  intuição;[5] enquanto a filosofia tipicamente apresenta seus resultados de maneira argumentativa, lĂłgica e abstrata.

Mas, se essa insistĂȘncia na razĂŁo diferencia a filosofia da religiĂŁo e da arte, o que a diferenciaria das ciĂȘncias, uma vez que tambĂ©m essa privilegia uma abordagem metĂłdica e racional dos fenĂŽmenos? A diferença Ă© que os problemas tipicamente filosĂłficos nĂŁo podem ser resolvidos por observação e experimentação.[5] NĂŁo hĂĄ experimentos e observaçÔes empĂ­ricas que possam decidir qual seria a noção de “direitos humanos” mais adequada do ponto de vista da razĂŁo. O mesmo vale para outras noçÔes, tais como “liberdade”, “justiça” ou “falta moral”. NĂŁo hĂĄ como resolver em laboratĂłrio questĂ”es como: “quando tem inĂ­cio o ser humano?”, “os animais podem ser sujeitos de direitos?”, “em que medida o Estado pode interferir na vida dos cidadĂŁos?”, “As entidades microscĂłpicas postuladas pelas ciĂȘncias tĂȘm o mesmo grau de realidade que os objetos da nossa experiĂȘncia cotidiana (pessoas, animais, mesas, cadeiras, etc.)?”. Em resumo, quando um tĂłpico Ă© defendido ou criticado com argumentos racionais, e essa defesa ou ataque nĂŁo pode contar com observaçÔes e experimentos para a sua solução, estamos diante de um debate filosĂłfico.

A definição de filosofia                        


Etimologia



Filósofo em Meditação, de Rembrandt (detalhe).

A palavra "filosofia" (do grego) Ă© uma composição de duas palavras: philos (Ï†ÎŻÎ»ÎżÏ‚) e sophia (ÏƒÎżÏ†ÎŻÎ±). A primeira Ă© uma derivação de philia (φÎčλία) que significa amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber; e o filĂłsofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.[6]

A tradição atribui ao filósofo Pitågoras de Samos (que viveu no século V a.C.) a criação da palavra. Conforme essa tradição, Pitågoras teria cunhado o termo para modestamente ressaltar que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas dos deuses; os homens, no entanto, poderiam venerå-la e amå-la na qualidade de filósofos.[6]

A palavra philosophĂ­a nĂŁo Ă© simplesmente uma invenção moderna a partir de termos gregos,[7] mas, sim, um emprĂ©stimo tomado da prĂłpria lĂ­ngua grega. Os termos φÎčÎ»ÎżÏƒÎżÏ†ÎżÏ‚ (philosophos) e φÎčÎ»ÎżÏƒÎżÏ†Î”ÎčΜ (philosophein) jĂĄ teriam sido empregados por alguns prĂ©-socrĂĄticos[8] (HerĂĄclito, PitĂĄgoras e GĂłrgias) e pelos historiadores HerĂłdoto e TucĂ­dides. Em SĂłcrates e PlatĂŁo, Ă© acentuada a oposição entre ÏƒÎżÏ†ÎŻÎ± e φÎčÎ»ÎżÏƒÎżÏ†ÎŻÎ±, em que o Ășltimo termo exprime certa modĂ©stia e certo ceticismo em relação ao conhecimento humano.

O conceito de filosofia                         


O conceito de "filosofia" sofreu, no transcorrer da histĂłria, vĂĄrias alteraçÔes e restriçÔes em sua abrangĂȘncia. As concepçÔes do que seja a filosofia e quais sĂŁo os seus objetos de estudo tambĂ©m se alteram conforme a escola ou movimento filosĂłfico. Essa variedade presente na histĂłria da filosofia e nas escolas e correntes filosĂłficas torna praticamente impossĂ­vel elaborar uma definição universalmente vĂĄlida de filosofia. Definir a filosofia Ă© realizar uma tarefa metafilosĂłfica. Em outras palavras, Ă© fazer uma filosofia da filosofia. O sociĂłlogo e filĂłsofo alemĂŁo Georg Simmel ressaltou esse ponto ao dizer que um dos primeiros problemas da filosofia Ă© o de investigar e estabelecer a sua prĂłpria natureza. Talvez a filosofia seja a Ășnica disciplina que se volte para si mesma dessa maneira. O objeto da fĂ­sica nĂŁo Ă©, certamente, a prĂłpria ciĂȘncia da fĂ­sica, mas os fenĂŽmenos Ăłpticos e elĂ©tricos, entre outros. A filologia ocupa-se de registros textuais antigos e da evolução das lĂ­nguas, mas nĂŁo se ocupa de si mesma. A filosofia, no entanto, move-se neste curioso cĂ­rculo: ela determina os pressupostos de seu mĂ©todo de pensar e os seus propĂłsitos atravĂ©s de seus prĂłprios mĂ©todos de pensar e propĂłsitos. NĂŁo hĂĄ como apreender o conceito de filosofia fora da filosofia; pois somente a filosofia pode determinar o que Ă© a filosofia.[9]

PlatĂŁo e AristĂłteles concordam em caracterizar a filosofia como uma atividade racional estimulada pelo assombro ou admiração. Mas, para PlatĂŁo, o assombro Ă© provocado pela instabilidade e contradiçÔes dos seres que percebemos pelos sentidos. A filosofia, no quadro platĂŽnico, seria a tentativa de superar esse mundo de coisas efĂȘmeras e mutĂĄveis e apreender racionalmente a realidade Ășltima, composta por formas eternas e imutĂĄveis que, segundo PlatĂŁo, sĂł podem ser captadas pela razĂŁo. Para AristĂłteles, ao contrĂĄrio, nĂŁo hĂĄ separação entre, de um lado, um mundo apreendido pelos sentidos e, de outro lado, um mundo exclusivamente captado pela razĂŁo. A filosofia seria uma investigação das causas e princĂ­pios fundamentais de uma Ășnica e mesma realidade. O filĂłsofo, segundo AristĂłteles, “conhece, na medida do possĂ­vel, todas as coisas, embora nĂŁo possua a ciĂȘncia de cada uma delas por si”.[10] A filosofia almejaria o conhecimento universal, nĂŁo no sentido de um acĂșmulo enciclopĂ©dico de todos os fatos e processos que se possam investigar, mas no sentido de uma compreensĂŁo dos princĂ­pios mais fundamentais, dos quais dependeriam os objetos particulares a que se dedicam as demais ciĂȘncias, artes e ofĂ­cios. AristĂłteles considera que a filosofia, como ciĂȘncia das causas e princĂ­pios primordiais, acabaria por identificar-se com a teologia, pois Deus seria o princĂ­pio dos princĂ­pios.[11]

As definiçÔes de filosofia elaboradas depois de PlatĂŁo e AristĂłteles separaram a filosofia em duas partes: uma filosofia teĂłrica e uma filosofia prĂĄtica. Como reflexo da busca por salvação ou redenção pessoal, a filosofia prĂĄtica foi gradativamente se tornando um sucedĂąneo da fĂ© religiosa e acabou por ganhar precedĂȘncia em relação Ă  parte teĂłrica da filosofia. A filosofia passa a ser concebida como uma arte de viver, que forneceria aos homens regras e prescriçÔes sobre como agir e como se portar diante das inconstĂąncias do mundo. Essa concepção Ă© muito clara em diversas correntes da filosofia helenĂ­stica, como, por exemplo, no estoicismo e no neoplatonismo.[11]

As definiçÔes de filosofia formuladas na Antiguidade persistiram na Ă©poca de disseminação e consolidação do cristianismo, mas isso nĂŁo impediu que as concepçÔes cristĂŁs exercessem influĂȘncia e moldassem novas maneiras de se entender a filosofia. As definiçÔes de filosofia elaboradas durante a Idade MĂ©dia foram coordenadas aos serviços que o pensamento filosĂłfico poderia prestar Ă  compreensĂŁo e sistematização da fĂ© religiosa; e, desse modo, a filosofia passa a ser concebida como “serva da teologia” (ancilla theologiae).[11] Segundo SĂŁo TomĂĄs de Aquino, por exemplo, a filosofia pode auxiliar a teologia em trĂȘs frentes: (1) ela pode demonstrar verdades que a fĂ© jĂĄ toma como estabelecidas, tais como a existĂȘncia de Deus e a imortalidade da alma; (2) pode esclarecer certas verdades da fĂ© ao traçar analogias com as verdades naturais; e (3) pode ser empregada para refutar ideias que se oponham Ă  doutrina sagrada.[12]

Os medievais tambĂ©m mantiveram a acepção de filosofia como saber prĂĄtico, como uma busca de normas ou recomendaçÔes para se alcançar a plenitude da vida. Santo Isidoro de Sevilha, ainda no sĂ©culo VII, definia a filosofia como “o conhecimento das coisas humanas e divinas combinado com uma busca pela vida moralmente boa” [13]


Frontispício da Instauratio Magna, de Francis Bacon, 1620. Na parte inferior estå escrito: Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentarå). As colunas representam as limitaçÔes da filosofia antiga e medieval.

Tanto na Idade MĂ©dia como em qualquer outra Ă©poca da histĂłria ocidental, a compreensĂŁo do que Ă© a filosofia reflete uma preocupação com questĂ”es essenciais para a vida humana em seus mĂșltiplos aspectos. As concepçÔes de filosofia do Renascimento e da Idade Moderna nĂŁo sĂŁo exceçÔes. TambĂ©m aĂ­ as noçÔes do que seja a filosofia sintetizam as tentativas de oferecer respostas substantivas aos problemas mais inquietantes da Ă©poca. O advento da era moderna fez ruir as prĂłprias bases da sabedoria tradicional; e impĂŽs aos intelecturais a tarefa de encontrar novas formas de conhecimento que pudessem restabelecer a confiança no intelecto e na razĂŁo. Para Francis Bacon - um dos primeiros filĂłsofos modernos - a filosofia nĂŁo deveria se contentar com uma atitude meramente contemplativa, como queriam os antigos e medievais; ao contrĂĄrio, deveria buscar o conhecimento das essĂȘncias das coisas a fim de obter o controle sobre os fenĂŽmenos naturais e, portanto, submeter a natureza aos desĂ­gnios humanos.[14] Para Descartes, a filosofia, na qualidade de metafĂ­sica, Ă© a investigação das causas primeiras, dos princĂ­pios fundamentais. Esses princĂ­pios devem ser claros e evidentes, e devem formar uma base segura a partir da qual se possam derivar as outras formas de conhecimento. É nesse sentido, entendendo-se a filosofia como o conjunto de todos os saberes e a metafĂ­sica como a investigação das primeiras causas, que se deve ler a famosa metĂĄfora de Descartes: “Assim, a Filosofia Ă© uma ĂĄrvore, cujas raĂ­zes sĂŁo a MetafĂ­sica, o tronco a FĂ­sica, e os ramos que saem do tronco sĂŁo todas as outras ciĂȘncias”.[15]

ApĂłs Descartes, a filosofia assume uma postura crĂ­tica em relação a suas prĂłprias aspiraçÔes e conteĂșdos. Os empiristas britĂąnicos, influenciados pelas novas aquisiçÔes da ciĂȘncia moderna, dedicaram-se a situar a investigação filosĂłfica nos limites do que pode ser avaliado pela experiĂȘncia. Segundo a orientação empirista, argumentos tradicionais da filosofia, como as demonstraçÔes da existĂȘncia de Deus, da imortalidade da alma e de essĂȘncias imutĂĄveis seriam invĂĄlidos, uma vez que as ideias com que operam nĂŁo sĂŁo adequadamente derivadas da experiĂȘncia. De maneira anĂĄloga, Kant, ao elaborar sua doutrina da filosofia transcendental, rejeita a possibilidade de tratamento cientĂ­fico de muitos dos problemas da filosofia tradicional, uma vez que a adequada solução deles demandaria recursos que ultrapassam as capacidades do intelecto humano.

O empirismo britĂąncio e o idealismo de Kant acentuam uma caracterĂ­stica frequentemente destacada na filosofia: a de ser um "pensar sobre o pensamento"[16] ou um "conhecer o conhecimento".[17] Esse concepção reflexiva da filosofia, do pensamento que se volta para si mesmo, influenciarĂĄ vĂĄrios autores e escolas filosĂłficas, tanto do sĂ©culo XIX como do sĂ©culo XX. A fenomenologia, por exemplo, considerarĂĄ a filosofia como um empreendimento eminentemente reflexivo. Segundo Edmund Husserl - o fundador da fenomenologia - a filosofia Ă© uma ciĂȘncia rigorosa dos fenĂŽmenos tal como nos aparecem, ou seja, tal como Ă© a nossa consciĂȘncia deles. Para descrevĂȘ-los, o filĂłsofo deve pĂŽr entre parĂȘnteses todas as suas pressuposiçÔes e preconceitos (atĂ© mesmo a certeza de que os objetos existem) e restringir-se apenas aos conteĂșdos da consciĂȘncia.

Com a virada linguĂ­stica do inĂ­cio do sĂ©culo XX, muitos filĂłsofos passam a considerar a filosofia como uma anĂĄlise de conceitos. Para Wittgenstein, os problemas filosĂłficos tradicionais sĂŁo todos resultantes de confusĂ”es linguĂ­sticas; e a tarefa do filĂłsofo seria a de esclarecer o modo como os conceitos sĂŁo empregados a fim de explicitar tais confusĂ”es. Numa abordagem mais positiva sobre a atividade filosĂłfica, Strawson considera que a filosofia Ă© anĂĄloga Ă  gramĂĄtica: assim como os estudiosos da gramĂĄtica explicitam as regras que os falantes inconscientemente empregam, a filosofia explicitaria conceitos-chave que, na construção de nossas concepçÔes e argumentos, adotamos sem ter plena consciĂȘncia de suas implicaçÔes e relaçÔes.[18]

A lista de concepçÔes da filosofia propostas ao longo de sua histĂłria pode ser estendida indefinidamente. Sua variedade Ă© tĂŁo grande que dificilmente se pode encontrar um elemento que perpasse todas as concepçÔes em todas as Ă©pocas. Mas nĂŁo se pode esquecer que as antigas concepçÔes de filosofia tornaram-se algo obsoletas frente ao avanço de outras disciplinas que antes se abrigavam Ă  sombra, excessivamente vasta, da filosofia. As concepçÔes de autores antigos e medievais, e mesmo de alguns modernos, consideravam indiscriminadamente como filosĂłficas investigaçÔes que hoje denominamos simplesmente de cientĂ­ficas. Assuntos como as leis do movimento, a estrutura da matĂ©ria e o funcionamento dos processos psicolĂłgicos – que hoje consideramos como temas da fĂ­sica, da quĂ­mica e da psicologia, respectivamente – eram todos reunidos na noção de filosofia natural. ApĂłs a revolução cientĂ­fica do sĂ©culo XVII, as investigaçÔes da filosofia natural foram gradualmente se desvencilhando da filosofia e se constituĂ­ram em domĂ­nios especĂ­ficos e independentes de pesquisa. De certa forma, os problemas clĂĄssicos da filosofia formam hoje um conjunto de assuntos elusivos que nĂŁo se dobraram Ă  metodologia indutiva e experimental das ciĂȘncias.[19] Mas isso nĂŁo implica dizer que a filosofia atual seja mero resĂ­duo do processo de crescimento e consolidação da ciĂȘncia moderna. Dizer isso seria esquecer o aspecto profundamente dinĂąmico e reflexivo da filosofia. A reflexĂŁo filosĂłfica nĂŁo Ă© algo que ocorra num limbo intelectual: ela acompanha de perto a evolução das ciĂȘncias, da polĂ­tica, da religiĂŁo e das artes.[11] Essa evolução tende a apresentar novos problemas e desafios que, por escaparem ao estrito domĂ­nio da disciplina em que surgiram, podem ser chamados de "filosĂłficos".

Talvez nĂŁo haja uma resposta categĂłrica Ă  pergunta “O que Ă© filosofia?”.[11] Os filĂłsofos divergem entre si sobre o que fazem, os problemas filosĂłficos ramificam-se indefinidamente e os mĂ©todos variam conforme a concepção do que seja o trabalho filosĂłfico. Talvez a afirmação de Simmel de que sĂł Ă© possĂ­vel entender a filosofia no Ăąmbito da filosofia possa ser tomada como uma advertĂȘncia quando contrastada com o amplo espectro de conceitos sobre a sua natureza: ao adotar uma das diferentes orientaçÔes filosĂłficas, tratamos de determinados problemas e adotamos determinados mĂ©todos para tentar esclarecĂȘ-los; mas, dado que hĂĄ outras concepçÔes, conforme outros mĂ©todos e conforme outras finalidades, devemos modestamente reconhecer que essas concepçÔes alternativas tĂȘm o mesmo direito de ostentar o tĂ­tulo de “filosofia” que a nossa concepção.

[editar] Os métodos da filosofia



Discussão noite adentro, de William Blades: o debate franco de ideias, conforme os padrÔes da argumentação lógica, é uma das características centrais da atividade filosófica.

Os trabalhos filosĂłficos sĂŁo realizados mediante tĂ©cnicas e procedimentos que integram os cĂąnones do pensamento racional. Tradicionalmente, a filosofia destaca e privilegia a argumentação lĂłgica, em linguagem natural ou em linguagem simbĂłlica, como a ferramenta por excelĂȘncia da apresentação e discussĂŁo de teorias filosĂłficas. A argumentação lĂłgica estĂĄ associada a dois elementos importantes: a articulação rigorosa dos conceitos e a correta concatenação das premissas e conclusĂ”es, de modo que essas Ășltimas sejam derivaçÔes incontestĂĄveis das primeiras. Toda a ideia filosĂłfica relevante Ă© inevitavelmente submetida a escrutĂ­nio crĂ­tico; e a presença de falhas na argumentação Ă© frequentemente o primeiro alvo das crĂ­ticas. Desse modo, o destino de uma tese qualquer que nĂŁo esteja amparada por argumentos sĂłlidos e convincentes serĂĄ, frequentemente, a severa rejeição por parte da comunidade filosĂłfica. Embora a reflexĂŁo sobre os princĂ­pios e mĂ©todos da lĂłgica sĂł tenha sido realizada pela primeira vez por AristĂłteles, a ĂȘnfase na argumentação lĂłgica e na crĂ­tica Ă  solidez dos argumentos Ă© uma caracterĂ­stica que acompanha a filosofia desde os seus primĂłrdios. A prĂłpria ruptura entre o pensamento mĂ­tico-religioso e o pensamento racional Ă© assinalada pela adoção de uma postura argumentativa e crĂ­tica em relação Ă s explicaçÔes tradicionais. Quando Anaximandro rejeitou as explicaçÔes de seu mestre – Tales de Mileto – e propĂŽs concepçÔes alternativas sobre a natureza e estrutura do cosmos, o pensamento humano dava seus primeiro passos em direção ao debate franco, pĂșblico e aberto de ideias, orientado apenas por critĂ©rios racionais de correção, como forma destacada de se aperfeiçoar o conhecimento; e abandonava, assim, as narrativas tradicionais sobre a origem e composição do universo, apoiadas na autoridade inquestionĂĄvel da tradição ou em ensinamentos esotĂ©ricos.[20]

Mas nĂŁo se podem restringir os mĂ©todos da filosofia apenas Ă  ĂȘnfase geral na argumentação lĂłgica e na crĂ­tica sistemĂĄtica Ă s teorias apresentadas. Nas grandes tradiçÔes da histĂłria da filosofia, podem ser identificadas duas orientaçÔes bem abrangentes, cujos objetivos e tĂ©cnicas tendem a diferir radicalmente: existem as escolas que privilegiam uma abordagem analĂ­tica dos problemas filosĂłficos e aquelas que optam por uma abordagem predominantemente sintĂ©tica ou sinĂłptica.[1]

A orientação analĂ­tica Ă© exemplificada nos trabalhos filosĂłficos que se dedicam Ă  decomposição de um conceito em suas partes constituintes e ao exame criterioso das relaçÔes lĂłgicas e conceptuais explicitadas pela anĂĄlise. O exemplo clĂĄssico Ă© a anĂĄlise do conceito de conhecimento. A reflexĂŁo sobre a natureza do conhecimento levou os filĂłsofos a decompor a noção de conhecimento em trĂȘs noçÔes associadas: crença, verdade e justificação. Para que algo seja conhecimento Ă© imprescindĂ­vel que seja antes uma crença – em outras palavras, o conhecimento Ă© uma espĂ©cie diferenciada do gĂȘnero mais abrangente da crença. A pergunta Ăłbvia que essa primeira constatação sugere Ă©: o que diferencia, entĂŁo, o conhecimento das demais formas de crença? Nesse ponto, o exame do conceito conduz a duas noçÔes distintas. Em primeiro lugar, Ă  noção de verdade. Intuitivamente separamos as crenças falsas das verdadeiras. É por isso que mantemos a crença de que Papel Noel existe num patamar diferente da crença de que a Lua gira em torno da Terra – quem sustenta a primeira, tem apenas uma crença; quem sustenta a Ășltima, provavelmente sabe algo sobre o sistema solar, pois exprime uma crença verdadeira. Mas, para que seja promovida Ă  condição de conhecimento, a crença precisa de algo mais: ela precisa ser apoiada por alguma espĂ©cie de justificação. AlĂ©m de sustentar uma crença verdadeira, o sujeito deve ser capaz de apresentar os meios ou as fontes, consideradas universalmente legĂ­timas, que lhe propiciaram chegar Ă  crença em questĂŁo. Feito esse exame, a conclusĂŁo Ă© a cĂ©lebre fĂłrmula: o conhecimento Ă© crença verdadeira justificada.[21] Nesse e em muitos outros casos envolvendo noçÔes filosoficamente relevantes, o trabalho de anĂĄlise Ă© capaz de explicitar pressupostos importantes implicitamente presentes no uso dos conceitos.

A outra orientação – a sintĂ©tica – percorre o caminho oposto ao da anĂĄlise. Os adeptos dessa orientação buscam elaborar uma sĂ­ntese de vĂĄrias noçÔes relevantes e apresentĂĄ-las como um todo harmĂŽnico.[1] Às vezes chamada de “filosofia especulativa”, essa orientação filosĂłfica pretende revelar princĂ­pios universais que possam reunir organicamente vĂĄrio elementos dĂ­spares, que aparentemente nĂŁo guardam relaçÔes relevantes entre si.[22] Um caso paradigmĂĄtico dessa orientação Ă© a filosofia hegeliana, cujo fito Ă© integrar numa dinĂąmica panteĂ­sta a evolução das mais diversas formas de manifestação da cultura humana – artes, leis, governos, religiĂ”es, ciĂȘncias e filosofias.

Desde o surgimento da ciĂȘncia moderna, vĂĄrios filĂłsofos buscaram separar a investigação filosĂłfica da investigação cientĂ­fica por meio de uma caracterização dos mĂ©todos peculiares Ă  filosofia. Como as ciĂȘncias especiais privilegiam a investigação empĂ­rica, especialmente por adoção de mĂ©todos experimentais, defendeu-se que a adoção de mĂ©todos a priori (isto Ă©, de mĂ©todos que antecedem a investigação empĂ­rica ou sĂŁo dela independentes) seria o traço definidor do trabalho filosĂłfico. Nos casos da argumentação lĂłgica, da anĂĄlise conceptual e da sĂ­ntese compreensiva nĂŁo hĂĄ necessidade de observação dos fenĂŽmenos para que se decida se uma conclusĂŁo Ă© ou nĂŁo Ă© logicamente correta, se um conceito estĂĄ sendo ou nĂŁo corretamente empregado ou se uma visĂŁo sinĂłptica Ă© ou nĂŁo Ă© incoerente. Isso nĂŁo implica um divĂłrcio entre a ciĂȘncia e a filosofia. Ao contrĂĄrio, implica que os filĂłsofos estĂŁo aptos a analisar os conceitos e argumentos das ciĂȘncias especiais, e, nesse domĂ­nio, podem prestar um serviço relevante ao aperfeiçoamento das teorias cientĂ­ficas.

AlĂ©m das orientaçÔes metodolĂłgicas acima explicadas, hĂĄ outras duas estratĂ©gias que podem ser caracterizados como mĂ©todos a priori. Os experimentos mentais e os argumentos transcendentais. Um experimento mental (Ă s vezes tambĂ©m chamado de "experiĂȘncia de pensamento") Ă© a elaboração de uma situação puramente hipotĂ©tica – geralmente impossĂ­vel de ser construĂ­da na prĂĄtica – por meio da qual o filĂłsofo testa os limites de determinados pressupostos ou conceitos. O experimento mental mais famoso da histĂłria da filosofia Ă© a hipĂłtese do GĂȘnio Maligno concebida por Descartes: ao imaginar um deus onipotente que se dedica a ludibriĂĄ-lo, Descartes leva o ceticismo ao seu extremo a fim de identificar uma certeza inabalĂĄvel capaz de superar atĂ© mesmo a hipĂłtese do GĂȘnio Maligno. (Essa hipĂłtese recebeu uma roupagem moderna na elaboração de outro experimento mental – o cĂ©rebro numa cuba).[23]

O outro mĂ©todo – o dos argumentos transcendentais – foi concebido por Kant, e consiste em tomar como dados os fatos da experiĂȘncia, e deduzir coisas que nĂŁo sĂŁo passĂ­veis de ser experienciadas, mas que constituem a prĂłpria condição de possibilidade daqueles fatos. Com essa espĂ©cie de argumento, Kant concluiu, por exemplo, que a forma pura do espaço Ă© uma das condiçÔes necessĂĄrias pressupostas pela experiĂȘncia dos objetos externos, pois sem ela tal experiĂȘncia seria impossĂ­vel.[24]

Embora o emprego da lĂłgica formal, da anĂĄlise conceptual e dos experimentos mentais sejam constantes na filosofia contemporĂąnea, predomina hoje, sobretudo na tradição analĂ­tica, a orientação que se convencionou chamar de naturalismo filosĂłfico. Essa orientação tem suas origens nos trabalhos do filĂłsofo americano Willard Van Orman Quine (1908-2000) que criticam a distinção entre questĂ”es conceptuais e empĂ­ricas. Os adeptos do naturalismo rejeitam a suposição de que a filosofia se diferencie das ciĂȘncias por um conjunto de mĂ©todos prĂłprios: os problemas filosĂłficos e os cientĂ­ficos pertencem a uma Ășnica e mesma esfera e, portanto, os mĂ©todos cientĂ­ficos, historicamente bem-sucedidos, devem tambĂ©m ser aplicados Ă  problemĂĄtica filosĂłfica.

Disciplinas filosĂłficas


A filosofia é geralmente dividida em åreas de investigação específica. Em cada årea, a pesquisa filosófica dedica-se à elucidação de problemas próprios, embora sejam muito comuns as interconexÔes. As åreas tradicionais da filosofia são as seguintes:

  • MetafĂ­sica: ocupa-se da elaboração de teorias sobre a realidade e sobre natureza fundamental de todas as coisas. O objetivo da metafĂ­sica Ă© fornecer uma visĂŁo abrangente do mundo – uma visĂŁo sinĂłptica que reĂșna em si os diversos aspectos da realidade. Uma das subĂĄreas da metafĂ­sica Ă© a ontologia (literalmente, a ciĂȘncia do "ser"), cujo tema principal Ă© a elaboração de escalas de realidade. Nesse sentido, a ontologia buscaria identificar as entidades bĂĄsicas ou elementares da realidade e mostrar como essas se relacionam com os demais objetos ou indivĂ­duos - de existĂȘncia dependente ou derivada.[25]

  • Epistemologia ou teoria do conhecimento: Ă© a ĂĄrea da filosofia que estuda a natureza do conhecimento, sua origem e seus limites. Dessa forma, entre as questĂ”es tĂ­picas da epistemologia estĂŁo: “O que diferencia o conhecimento de outras formas de crença?”, “O que podemos conhecer?”, “Como chegamos a ter conhecimento de algo?”.[25]

  • LĂłgica: Ă© a ĂĄrea que trata das estruturas formais do raciocĂ­nio perfeito – ou seja, daqueles raciocĂ­nios cuja conclusĂŁo preserva a verdade das premissas. Na lĂłgica sĂŁo estudados, portanto, os mĂ©todos e princĂ­pios que permitem distinguir os raciocĂ­nios corretos dos raciocĂ­nios incorretos.[26]

  • Ética ou filosofia moral: Ă© a ĂĄrea da filosofia que trata das distinçÔes entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Procura identificar os meios mais adequados para aprimorar a vida moral e para alcançar uma vida moralmente boa. TambĂ©m no campo da Ă©tica dĂŁo-se as discussĂ”es a respeito dos princĂ­pios e das regras morais que norteiam a vida em sociedade, e sobre quais seriam as justificativas racionais para adotar essas regras e princĂ­pios.[25]

  • Filosofia polĂ­tica: Ă© o ramo da filosofia que investiga os fundamentos da organização sociopolĂ­tica e do Estado. SĂŁo tradicionais nessa ĂĄrea, as hipĂłteses sobre o contrato original que teria dado inĂ­cio Ă  vida em sociedade, instituĂ­do o governo, os deveres e os direitos dos cidadĂŁos. Muitas dessas situaçÔes hipotĂ©ticas sĂŁo elaboradas no intuito de recomendar mudanças ou reformas polĂ­ticas aptas a aproximar as sociedades concretas de um determinado ideal polĂ­tico.[25]

  • EstĂ©tica ou filosofia da arte: entre as investigaçÔes dessa ĂĄrea, encontram-se aquelas sobre a natureza da arte e da experiĂȘncia estĂ©tica, sobre como a experiĂȘncia estĂ©tica se diferencia de outras formas de experiĂȘncia, e sobre o prĂłprio conceito de belo.[25]

Evolução histórica


Pensamento mĂ­tico e pensamento filosĂłfico


Como em muitas outras sociedades antigas, as narrativas míticas desempenhavam uma função central na sociedade grega. Além de estabelecer marcos importantes na vida social, os mitos gregos promoviam uma concepção de mundo de natureza religiosa que propiciava respostas às principais indagaçÔes existenciais que desde sempre inquietaram o espírito humano. Os eventos históricos, os fenÎmenos naturais e os principais eventos da vida humana (nascimento, casamento, doença e morte) eram entrelaçados às histórias tradicionais sobre conflitos entre deuses, intercùmbios entre deuses e homens e feitos memoråveis de semideuses.

Originalmente, a palavra grega mythos significava simplesmente palavra ou fala;[27] mas o termo remetia tambĂ©m Ă  noção de uma palavra proferida com autoridade.[28] As histĂłrias Ă©picas de Homero, permeadas de intervençÔes sobrenaturais, ou a teogonia de HesĂ­odo eram mythos no sentido de serem anĂșncios revestidos de autoridade, dignos de crĂ©dito e reverĂȘncia. Gradualmente, o termo foi assumindo outro sentido e jĂĄ Ă  Ă©poca de PlatĂŁo e AristĂłteles o mythos era empregado para caracterizar histĂłrias fictĂ­cias ou absurdas que se afastariam do logos - isto Ă©, do discurso racional.[29] AristĂłteles, por exemplo, considerava a filosofia como um empreendimento intelectual completamente distinto das elaboraçÔes mitolĂłgicas. Na MetafĂ­sica, ao tratar do problema da incorruptibilidade, AristĂłteles menciona HesĂ­odo e, logo em seguida, descarta peremptoriamente suas opiniĂ”es, pois, segundo ele, “nĂŁo precisamos perder tempo investigando seriamente as sutilezas dos criadores de mitos.”[30]

Pode-se dizer que a filosofia surge como uma espécie de rompimento com a visão mítica do mundo. Enquanto os mitos se organizavam em narraçÔes, imagens e seres particulares, a filosofia inaugurava o discurso argumentativo, abstrato e universal. Além disso, ao contrårio dos autores de mitos, os filósofos gregos tentaram com afinco elaborar concepçÔes de mundo que fossem isentas de contradiçÔes e imperfeiçÔes lógicas.

Desse modo, nĂŁo Ă© sem razĂŁo que muitos autores enfatizam o carĂĄter de ruptura e divergĂȘncias ao comparar o advento da filosofia com a tradição mĂ­tica da GrĂ©cia antiga. Mas, embora sejam inegĂĄveis as diferenças, mais recentemente vĂĄrios estudiosos tĂȘm apontado os pontos de continuidade e semelhança entre as primeiras elucubraçÔes filosĂłficas dos gregos e as suas concepçÔes mitolĂłgicas.[31] Para esses autores, as peculiaridades da tradição mĂ­tica grega favoreceram o surgimento da filosofia grega e os primeiros filĂłsofos empenharam-se numa espĂ©cie dessacralização e despersonalização das narrativas tradicionais sobre o surgimento e organização do cosmos.

Filosofia antiga



A filosofia antiga teve inĂ­cio no sĂ©culo VI a.C. e se estendeu atĂ© a decadĂȘncia do impĂ©rio romano no sĂ©culo V d.C. Pode-se dividi-la em quatro perĂ­odos: (1) o perĂ­odo dos prĂ©-socrĂĄticos; (2) um perĂ­odo humanista, em que SĂłcrates e os sofistas trouxeram as questĂ”es morais para o centro do debate filosĂłfico; (3) o perĂ­odo ĂĄureo da filosofia em Atenas, em que despontaram PlatĂŁo e AristĂłteles; (4) e o perĂ­odo helenĂ­stico. Às vezes se distingue um quinto perĂ­odo, que compreende os primeiros filĂłsofos cristĂŁos e os neoplatonistas.[32] Os dois autores mais importantes da filosofia antiga em termos de influĂȘncia posterior foram PlatĂŁo e AristĂłteles.

Os primeiros filĂłsofos gregos, geralmente chamados de prĂ©-socrĂĄticos, dedicaram-se a especulaçÔes sobre a constituição e a origem do mundo. O principal intuito desses filĂłsofos era descobrir um elemento primordial, eterno e imutĂĄvel que fosse a matĂ©ria bĂĄsica de todas as coisas. Essa substĂąncia imutĂĄvel era chamada de physis (palavra grega cuja tradução literal seria natureza, mas que na concepção dos primeiros filĂłsofos compreendia a totalidade dos seres, inclusive entidades divinas),[33] e, por essa razĂŁo, os primeiros filĂłsofos tambĂ©m foram conhecidos como os physiologoi (literalmente “fisiĂłlogos”, isto Ă©, os filĂłsofos que se dedicavam ao estudo da physis).[34] A questĂŁo da essĂȘncia material imutĂĄvel foi a primeira feição assumida por uma inquietação que percorreu praticamente toda a filosofia grega. Essa inquietação pode ser traduzida na seguinte pergunta: existe uma realidade imutĂĄvel por trĂĄs das mudanças caĂłticas dos fenĂŽmenos naturais? JĂĄ os prĂłprios prĂ©-socrĂĄticos propuseram respostas extremas a essa pergunta. ParmĂȘnides de Eleia defendeu que a perene mutação das coisas nĂŁo passa de uma ilusĂŁo dos sentidos, pois a razĂŁo revelaria que o Ser Ă© Ășnico, imutĂĄvel e eterno.[35] HerĂĄclito de Éfeso, por outro lado, defendeu uma posição diametralmente oposta: a prĂłpria essĂȘncia das coisas Ă© mudança, e seriam vĂŁos os esforços para buscar uma realidade imutĂĄvel.[36]

Tais especulaçÔes, que combinavam a oposição entre realidade e aparĂȘncia com a busca de uma matĂ©ria primordial, culminaram na filosofia atomista de Leucipo e DemĂłcrito. Para esses filĂłsofos a substĂąncia de todas as coisas seriam partĂ­culas minĂșsculas e invisĂ­veis – os ĂĄtomos – em perene movimentação no vĂĄcuo. E os fenĂŽmenos que testemunhamos cotidianamente sĂŁo resultado da combinação, separação e recombinação desses ĂĄtomos.

A teoria de DemĂłcrito representou o ĂĄpice da filosofia da physis, mas tambĂ©m o seu esgotamento. As transformaçÔes sociopolĂ­ticas, especialmente em Atenas, jĂĄ impunham novas demandas aos sĂĄbios da Ă©poca. A democracia ateniense solicitava novas habilidades intelectuais, sobretudo a capacidade de persuadir. É nesse momento que se destacam os filĂłsofos que se dedicam justamente a ensinar a retĂłrica e as tĂ©cnicas de persuasĂŁo – os sofistas. O ofĂ­cio dessa nova espĂ©cie de filĂłsofos trazia como pressuposto a ideia de que nĂŁo hĂĄ verdades absolutas. O importante seria dominar as tĂ©cnicas da boa argumentação, pois, dominando essas tĂ©cnicas, o indivĂ­duo poderia defender qualquer opiniĂŁo, sem se preocupar com a questĂŁo de sua veracidade. De fato, para os sofistas, a busca da verdade era uma pretensĂŁo inĂștil. A verdade seria apenas uma questĂŁo de aceitação coletiva de uma crença, e, a princĂ­pio, nĂŁo haveria nada que impedisse que o que hoje Ă© tomado como verdade, amanhĂŁ fosse considerado uma tolice.[37]

O contraponto a esse relativismo dos sofistas foi SĂłcrates. Embora partilhasse com os sofistas certa indiferença em relação aos valores tradicionais, SĂłcrates dedicou-se Ă  busca de valores perenes. SĂłcrates nĂŁo deixou nenhum registro escrito de suas ideias. Tudo o que sabemos dele chegou-nos atravĂ©s do testemunho de seus discĂ­pulos e contemporĂąneos. Segundo dizem, SĂłcrates teria defendido que a virtude Ă© conhecimento e as faltas morais provĂȘm da ignorĂąncia.[38] O indivĂ­duo que adquirisse o conhecimento perfeito seria inevitavelmente bom e feliz. Por outro lado, essa busca simultĂąnea do conhecimento e da bondade deve começar pelo exame profundo de si mesmo e das crenças e valores aceitos acriticamente. Segundo contam, SĂłcrates foi um inquiridor implacĂĄvel e fez fama por sua habilidade de levar Ă  exasperação os seus antagonistas. Ao concidadĂŁo que se dizia justo, SĂłcrates perguntava “O que Ă© a justiça?”, e depois se dedicava a demolir todas as tentativas de responder Ă  pergunta.


A Morte de SĂłcrates, Jacques-Louis David, 1787.

A atitude de Sócrates acabou por lhe custar a vida. Seus adversários conseguiram levá-lo a julgamento por impiedade e corrupção de jovens. Sócrates foi condenado à morte – mais especificamente, a envenenar-se com cicuta. Segundo o relato de Platão, o seu mais famoso discípulo, Sócrates cumpriu a sentença com absoluta serenidade e destemor.

Coube a PlatĂŁo levar adiante os ensinamentos do mestre e superĂĄ-los. PlatĂŁo realiza a primeira grande sĂ­ntese da filosofia grega. Em seus diĂĄlogos, combinam-se as antigas questĂ”es dos prĂ©-socrĂĄticos com as urgentes questĂ”es morais e polĂ­ticas, o discurso racional com a intuição mĂ­stica, a elucubração lĂłgica com a obra poĂ©tica, os mitos com a ciĂȘncia.

Segundo PlatĂŁo, os nossos sentidos sĂł nos permitem perceber uma natureza caĂłtica, em que as mudanças e a diversidade aparentam nĂŁo obedecer a nenhum princĂ­pio regulador; mas a razĂŁo, ao contrĂĄrio, Ă© capaz de ir alĂ©m dessas aparĂȘncias e captar as formas imutĂĄveis que sĂŁo as causas e modelos de tudo o que existe. A geometria fornece um bom exemplo. Ao demonstrar seus teoremas os geĂŽmetras empregam figuras imperfeitas. Por mais acurado que seja o compasso, os desenhos de cĂ­rculos sempre conterĂŁo irregularidades e imperfeiçÔes. As figuras sensĂ­veis do cĂ­rculo estĂŁo sempre aquĂ©m de seu modelo – e esse modelo Ă© a prĂłpria ideia de cĂ­rculo, concebĂ­vel apenas pela razĂŁo. O mesmo ocorre com os demais seres: os cavalos que vemos sĂŁo todos diferentes entre si, mas hĂĄ um princĂ­pio unificador – a ideia de cavalo – que nos faz chamar a todos de cavalos. Com os valores, nĂŁo seria diferente. As diferentes opiniĂ”es sobre questĂ”es morais e estĂ©ticas devem-se a uma visĂŁo empobrecida das coisas. Os que empreenderem uma busca sincera alcançarĂŁo a concepção do Belo em si mesmo e do Bem em si mesmo.

Ao contrĂĄrio do que o termo “ideias” possa sugerir, PlatĂŁo nĂŁo as considera como meras construçÔes psicolĂłgicas; ao contrĂĄrio, ele lhes atribui realidade objetiva. As ideias constituem um mundo suprassensĂ­vel – ou seja, uma dimensĂŁo que nĂŁo podemos ver e tocar, mas que podemos captar como os “olhos” da razĂŁo. Essa Ă© a famosa teoria das ideias de PlatĂŁo. Ele a ilustra numa alegoria igualmente cĂ©lebre – a alegoria da caverna.

PlatĂŁo nos convida a imaginar uma caverna em que se acham vĂĄrios prisioneiros. Eles estĂŁo amarrados de tal maneira que sĂł podem ver a parede do fundo da caverna. Às costas dos prisioneiros hĂĄ um muro da altura de um homem. Por trĂĄs desse muro, transitam vĂĄrias pessoas carregando estĂĄtuas de diversas formas – todas elas sĂŁo rĂ©plicas de coisas que vemos cotidianamente (ĂĄrvores, pĂĄssaros, casas etc.). HĂĄ tambĂ©m uma grande fogueira, atrĂĄs desse muro e dos carregadores. A luz da fogueira faz com que as sombras das estĂĄtuas sejam projetadas sobre o fundo da parede. Os barulhos e falas dos carregadores reverberam no fundo da caverna, dando aos prisioneiros a impressĂŁo de que sĂŁo oriundos das sombras que eles veem. Nessa situação imaginĂĄria, os prisioneiros pensariam que as sombras e os ecos constituem tudo o que existe. Como nunca puderam ver nada alĂ©m das sombras projetadas na parede da caverna, acreditam que apenas as sombras sĂŁo reais.

Após apresentar esse cenårio, Platão sugere que, se um desses prisioneiros conseguisse se libertar, veria, com surpresa, que as eståtuas que sempre estiveram atrås dos prisioneiros são mais reais do que aquelas sombras. Ao sair da caverna, a luz o ofuscaria; mas, após se acostumar com a claridade, veria que as coisas da superfície são ainda mais reais do que as eståtuas. Esse prisioneiro que se liberta é o filósofo, e a sua jornada em direção à superfície representa a o percurso da razão em sua lenta ascensão ao conhecimento perfeito.


A Escola de Atenas, de Rafael, representa os mais importantes filĂłsofos, matemĂĄticos e cientistas da Antiguidade.

AristĂłteles, discĂ­pulo de PlatĂŁo e preceptor de Alexandre, o Grande, rejeitou a teoria das ideias. Para ele, a hipĂłtese de uma realidade separada e independente, constituĂ­da apenas por entidades inteligĂ­veis, era uma duplicação do mundo absolutamente desnecessĂĄria.[39] Na visĂŁo de AristĂłteles, a essĂȘncia de uma coisa nĂŁo consiste numa ideia suplementar e separada, mas numa forma que lhe Ă© imanente. Essa forma imanente Ă© o que dĂĄ organização e estrutura Ă  matĂ©ria, e propicia, no caso dos organismos vivos, o seu desenvolvimento conforme a sua essĂȘncia. AristĂłteles tambĂ©m divergiu de PlatĂŁo sobre o valor da experiĂȘncia na aquisição do conhecimento. Enquanto na filosofia platĂŽnica, hĂĄ uma perene desconfiança em relação ao saber derivado dos sentidos, na filosofia aristotĂ©lica o conhecimento adquirido pela visĂŁo, audição, tato etc. Ă© considerado como o ponto de partida do empreendimento cientĂ­fico.

AristĂłteles foi um pesquisador infatigĂĄvel, e seus interesses abarcavam praticamente todas as ĂĄreas do conhecimento. Foi o fundador da biologia; e o criador da lĂłgica como disciplina. Fez contribuiçÔes originais e duradouras em metafĂ­sica e teologia, Ă©tica e polĂ­tica, psicologia e estĂ©tica. AlĂ©m de ter contribuĂ­do nas mais diversas disciplinas, AristĂłteles realizou a primeira grande sistematização das ciĂȘncias, organizando-as conforme seus mĂ©todos e abrangĂȘncia. Em cada uma das disciplinas que criou, ou ajudou a criar, AristĂłteles cunhou uma terminologia que atĂ© hoje estĂĄ presente no vocabulĂĄrio cientĂ­fico e filosĂłfico: como exemplos, podem-se mencionar as palavras substĂąncia, categoria, energia, princĂ­pio e forma.[40]

Na transição do sĂ©culo IV para o sĂ©culo III a.C., durante o perĂ­odo helenĂ­stico, formam-se duas escolas filosĂłficas cujos ensinamentos representam uma clara mudança de ĂȘnfase em relação Ă  Academia de PlatĂŁo e Ă  escola peripatĂ©tica de AristĂłteles. Sua preocupação Ă© principalmente a redenção pessoal. Tanto para Epicuro (ca.341-270 a.C.) e seus seguidores como para ZenĂŁo de CĂ­tio e demais estoicos o principal objetivo da filosofia deveria ser a obtenção da serenidade de espĂ­rito. As duas escolas tambĂ©m se assemelham na crença de que esse objetivo passa por uma espĂ©cie de harmonização entre o indivĂ­duo e a natureza, mas divergem quanto Ă  forma de se realizar essa harmonização. Para Epicuro, a sintonia com a natureza supĂ”e a aceitação das necessidades e desejos naturais e dos prazeres sensoriais. Dessa forma, ele preconiza a fruição moderada dos prazeres e a comedida gratificação dos desejos.[41] Os estoicos, por outro lado, sustentavam a crença de que o cosmos e os seres humanos partilhavam do mesmo logos divino. O ideal filosĂłfico de vida seria, na concepção dos estoicos, a adesĂŁo Ă  necessidade racional da natureza e o desenvolvimento de uma absoluta imperturbabilidade (ataraxia) em relação aos fatos e eventos do mundo.[42]

A Antiguidade tardia viu ainda o florescimento de uma nova interpretação do platonismo, de acentuada tendĂȘncia mĂ­stica – o chamado Neoplatonismo. Seu principal representante, Plotino (205-270), defendeu que o princĂ­pio fundamental e divino do universo serio o Uno e que desse princĂ­pio fundamental emanavam novas realidades, de diferentes graus de perfeição. O universo material e sensĂ­vel – o "mundo das sombras" da alegoria platĂŽnica – seria uma emanação distante do Uno, e, por isso, apresentaria os traços de imperfeição e inconstĂąncia que o caracterizam.[43]

[editar] Filosofia medieval




A filosofia medieval é a filosofia da Europa ocidental e do Oriente Médio durante a Idade Média. Começa, aproximadamente, com a cristianização do Império Romano e encerra-se com a Renascença. A filosofia medieval pode ser considerada, em parte, como prolongamento da filosofia greco-romana[44] e, em parte, como uma tentativa de conciliar o conhecimento secular e a doutrina sagrada.[45]

A Idade MĂ©dia carregou por muito tempo o epĂ­teto depreciativo de "idade das trevas", atribuĂ­do pelos humanistas renascentistas; e a filosofia desenvolvida nessa Ă©poca padeceu do mesmo desprezo. No entanto, essa era de aproximadamente mil anos foi o mais longo perĂ­odo de desenvolvimento filosĂłfico na Europa e um dos mais ricos. Jorge Gracia defende que “em intensidade, sofisticação e aquisiçÔes, pode-se corretamente dizer que o florescimento filosĂłfico no sĂ©culo XIII rivaliza com a Ă©poca ĂĄurea da filosofia grega no sĂ©culo IV a. C.”[46].

Entre os principais problemas discutidos nessa Ă©poca estĂŁo a relação entre fĂ© e razĂŁo, a existĂȘncia e unidade de Deus, o objeto da teologia e da metafĂ­sica, os problemas do conhecimento, dos universais e da individualização.

Entre os filósofos medievais do ocidente, merecem destaque Agostinho de Hipona, Boécio, Anselmo de Cantuåria, Pedro Abelardo, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoregio, Tomås de Aquino, João Duns Escoto, Guilherme de Ockham e Jean Buridan; na civilização islùmica, Avicena e Averrois; entre os judeus, Moisés MaimÎnides.

TomĂĄs de Aquino (1225-1274), fundador do tomismo, exerceu influĂȘncia inigualĂĄvel na filosofia e na teologia medievais. Em sua obra, ele deu grande importĂąncia Ă  razĂŁo e Ă  argumentação, e procurou elaborar uma sĂ­ntese entre a doutrina cristĂŁ e a filosofia aristotĂ©lica. A filosofia de TomĂĄs de Aquino representou uma reorientação significativa do pensamento filosĂłfico medieval, atĂ© entĂŁo muito influenciado pelo neoplatonismo e sua reinterpretação agostiniana.

[editar] Filosofia do Renascimento




O Homem vitruviano, de Leonardo Da Vinci, resume vĂĄrios dos ideais do pensamento renascentista.

A transição da Idade MĂ©dia para a Idade Moderna foi marcada pelo Renascimento e pelo Humanismo.[47] Nesse perĂ­odo de transição, a redescoberta de textos da Antiguidade[48] contribuiu para que o interesse filosĂłfico saĂ­sse dos estudos tĂ©cnicos de lĂłgica, metafĂ­sica e teologia e se voltasse para estudos eclĂ©ticos nas ĂĄreas da filologia, da moralidade e do misticismo. Os estudos dos clĂĄssicos e das letras receberam uma ĂȘnfase inĂ©dita e desenvolveram-se de modo independente da escolĂĄstica tradicional. A produção e disseminação do conhecimento e das artes deixam de ser uma exclusividade das universidades e dos acadĂȘmicos profissionais, e isso contribui para que a filosofia vĂĄ aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e da religiĂŁo, o conceito de homem assume o centro das ocupaçÔes artĂ­sticas, literĂĄrias e filosĂłficas.[49]

O renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgĂąnico, sujeito Ă  compreensĂŁo e influĂȘncia humanas. De uma forma ou de outra, essa concepção estĂĄ presente nos trabalhos de Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Bernardino Telesio e Galileu Galilei. Essa reinterpretação da natureza Ă© acompanhada, em muitos casos, de um intenso interesse por magia, hermetismo e astrologia – considerados entĂŁo como instrumentos de compreensĂŁo e manipulação da natureza.

À medida que a autoridade eclesial cedia lugar Ă  autoridade secular e que o foco dos interesses voltava-se para a polĂ­tica em detrimento da religiĂŁo, as rivalidades entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam nĂŁo apenas soluçÔes prĂĄticas emergenciais, mas tambĂ©m uma profunda reflexĂŁo sobre questĂ”es pertinentes Ă  filosofia polĂ­tica. Desse modo, a filosofia polĂ­tica, que por vĂĄrios sĂ©culos esteve dormente, recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa ĂĄrea, destacam-se as obras de Nicolau Maquiavel e Jean Bodin.[50]

Filosofia moderna                                




René Descartes, fundador da filosofia moderna e do racionalismo.

A filosofia moderna é caracterizada pela preponderùncia da epistemologia sobre a metafísica. A justificativa dos filósofos modernos para essa alteração estava, em parte, na ideia de que, antes de querer conhecer tudo o que existe, seria conveniente conhecer o que se pode conhecer.[51]

Geralmente considerado como o fundador da filosofia moderna,[52] o cientista, matemĂĄtico e filĂłsofo francĂȘs RenĂ© Descartes (1596-1650) redirecionou o foco da discussĂŁo filosĂłfica para o sujeito pensante. O projeto de Descartes era o de assentar o edifĂ­cio do conhecimento sobre bases seguras e confiĂĄveis. Para tanto, acreditava ele ser necessĂĄrio um procedimento prĂ©vio de avaliação crĂ­tica e severa de todas as fontes do conhecimento disponĂ­vel, num procedimento que ficou conhecido como dĂșvida metĂłdica. Segundo Descartes, ao adotar essa orientação, constatamos que resta como certeza inabalĂĄvel a ideia de um eu pensante: mesmo que o sujeito ponha tudo em dĂșvida, se ele duvida, Ă© porque pensa; e, se pensa, Ă© porque existe. Essa linha de raciocĂ­nio foi celebrizada pela fĂłrmula “penso, logo existo” (cogito ergo sum).[53][54] A partir dessa certeza fundamental, Descartes defendia ser possĂ­vel deduzir rigorosamente, ao modo de um geĂŽmetra, outras verdades fundamentais acerca do sujeito, da natureza do conhecimento e da realidade.

No projeto cartesiano estĂŁo presentes trĂȘs pressupostos bĂĄsicos: (1) a matemĂĄtica, ou o mĂ©todo dedutivo adotado pela matemĂĄtica, Ă© o modelo a ser seguido pelos filĂłsofos; (2) existem ideias inatas, absolutamente verdadeiras, que de alguma forma estĂŁo desde sempre inscritas no espĂ­rito humano; (3) a descoberta dessas ideias inatas nĂŁo depende da experiĂȘncia – elas sĂŁo alcançadas exclusivamente pela razĂŁo. Esses trĂȘs pressupostos tambĂ©m estĂŁo presentes nas filosofias de Gottfried Leibniz (1646-1716) e Baruch Spinoza (1632-1677), e constituem a base do movimento filosĂłfico denominado racionalismo.[55]

Se os racionalistas priorizavam o modelo matemĂĄtico, a filosofia antagĂŽnica – o empirismo – enfatizava os mĂ©todos indutivos das ciĂȘncias experimentais. O filĂłsofo John Locke (1632-1704) propĂŽs a aplicação desses mĂ©todos na investigação da prĂłpria mente humana. Em patente confronto com os racionalistas, Locke argumentou que a mente chega ao mundo completamente vazia de conteĂșdo – Ă© uma espĂ©cie de lousa em branco ou tabula rasa; e todas as ideias com que ela trabalha sĂŁo necessariamente originĂĄrias da experiĂȘncia.[56] Esse pressuposto tambĂ©m Ă© adotado pelos outros dois grandes filĂłsofos do empirismo britĂąnico, George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711-1776).

As ideias do empirismo inglĂȘs tambĂ©m se difundiram na França; e o entusiasmo com as novas ciĂȘncias levou os intelectuais franceses a defender uma ampla reforma cultural, que remodelasse nĂŁo sĂł a forma de se produzir conhecimento, mas tambĂ©m as formas de organização social e polĂ­tica. Esse movimento amplo e contestatĂłrio ficou conhecido como Iluminismo. Os filĂłsofos iluministas rejeitavam qualquer forma de crença que se baseasse apenas na tradição e na autoridade, em especial as divulgadas pela Igreja CatĂłlica. Um dos marcos do Iluminismo francĂȘs foi a publicação da EncyclopĂ©die. Elaborada sob a direção de Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot, essa obra enciclopĂ©dica inovadora incorporou vĂĄrios dos valores defendidos pelos iluministas e contou com a colaboração de vĂĄrios de seus nomes mais destacados, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau.

Em 1778, Immanuel Kant publicou a sua famosa CrĂ­tica da RazĂŁo Pura, em que propĂ”e uma espĂ©cie de sĂ­ntese entre as teses racionalistas e empiristas. Segundo Kant, apesar de o nosso conhecimento depender de nossas percepçÔes sensoriais, essas nĂŁo constituem todo o nosso conhecimento, pois existem determinadas estruturas do sujeito que as antecedem e tornam possĂ­vel a prĂłpria formação da experiĂȘncia. O espaço, por exemplo, nĂŁo Ă© uma realidade que passivamente assimilamos a partir de nossas impressĂ”es sensoriais. Ao contrĂĄrio, somos nĂłs que impomos uma organização espacial aos objetos. Do mesmo modo, o sujeito nĂŁo aprende, apĂłs inĂșmeras experiĂȘncias, que todas as ocorrĂȘncias pressupĂ”em uma causa; antes, Ă© a estrutura peculiar do sujeito que impĂ”e aos fenĂŽmenos uma organização de causa e efeito. Uma das consequĂȘncias da filosofia kantiana Ă© estabelecer que as coisas em si mesmas nĂŁo podem ser conhecidas. A fronteira de nosso conhecimento Ă© delineada pelos fenĂŽmenos, isto Ă©, pelos resultados da interação da realidade objetiva com os esquemas cognitivos do sujeito.

Filosofia do século XIX



Geralmente se considera que depois da filosofia de Kant tem inĂ­cio uma nova etapa da filosofia, que se caracterizaria por ser uma continuação e, simultaneamente, uma reação Ă  filosofia kantiana. Nesse perĂ­odo desenvolve-se o idealismo alemĂŁo (Fichte, Schelling e Hegel), que leva as ideias kantianas Ă s Ășltimas consequĂȘncias. A noção de que hĂĄ um universo inteiro (a realidade em si mesma) inalcançåvel ao conhecimento humano, levou os idealistas alemĂŁes a assimilar a realidade objetiva ao prĂłprio sujeito no intuito de resolver o problema da separação fundamental entre sujeito e objeto. Assim, por exemplo, Hegel postulou que o universo Ă© espĂ­rito. O conjunto dos seres humanos, sua histĂłria, sua arte, sua ciĂȘncia e sua religiĂŁo sĂŁo apenas manifestaçÔes desse espĂ­rito absoluto em sua marcha dinĂąmica rumo ao autoconhecimento.[57]

Enquanto na Alemanha, o idealismo apoderava-se do debate filosĂłfico, na França, Auguste Comte retomava uma orientação mais prĂłxima das ciĂȘncias e inaugurava o positivismo e a sociologia. Na visĂŁo de Comte, a humanidade progride por trĂȘs estĂĄgios: o estĂĄgio teolĂłgico, o estĂĄgio metafĂ­sico e, por fim, o estĂĄgio positivo. No primeiro estĂĄgio, as explicaçÔes sĂŁo dadas em termos mitolĂłgicos ou religiosos; no segundo, as explicaçÔes tornam-se abstratas, mas ainda carecem de cientificidade; no terceiro estĂĄgio, a compreensĂŁo da realidade se dĂĄ em termos de leis empĂ­ricas de “sucessĂŁo e semelhança” entre os fenĂŽmenos.[58] Para Comte, a plena realização desse terceiro estĂĄgio histĂłrico, em que o pensamento cientĂ­fico suplantaria todos os demais, representaria a aquisição da felicidade e da perfeição.[59]

Também no campo do desenvolvimento histórico, Marx e Engels davam uma nova formulação ao socialismo. Eles fazem uma releitura materialista da dialética de Hegel no intuito de analisar e condenar o sistema capitalista. Desenvolvem a teoria da mais-valia, segundo a qual o lucro dos capitalistas dependeria inevitavelmente da exploração do proletariado. Sustentam que o estado, as formas político-institucionais e as concepçÔes ideológicas formavam uma superestrutura construída sobre a base das relaçÔes de produção[60] e que as contradiçÔes resultantes entre essa base econÎmica e a superestrutura levariam as sociedades inevitavelmente à revolução e ao socialismo.

No campo da Ă©tica, os filĂłsofos ingleses Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) elaboram os princĂ­pios fundamentais do utilitarismo.[61] Para eles, o valor Ă©tico nĂŁo Ă© algo intrĂ­nseco Ă  ação realizada; esse valor deve ser mensurado conforme as consequĂȘncias da ação, pois a ação eticamente recomendĂĄvel Ă© aquela que maximiza o bem-estar na coletividade.

Talvez a teoria que maior impacto filosófico provocou no século XIX não tenha sido elaborada por um filósofo. Ao propor sua teoria da evolução das espécies por seleção natural, Charles Darwin (1809-1882) estabeleceu as bases de uma concepção de mundo profundamente revolucionåria. O filósofo que melhor percebeu as sérias implicaçÔes da teoria de Darwin para todos os campos de estudo foi Herbert Spencer (1820-1903). Em vårias publicaçÔes, Spencer elaborou uma filosofia evolucionista que aplicava os princípios da teoria da evolução aos mais variados assuntos, especialmente à psicologia, ética e sociologia.

TambĂ©m no sĂ©culo XIX surgem filĂłsofos que colocam em questĂŁo a primazia da razĂŁo e ressaltam os elementos voluntaristas e emotivos do ser humano e de suas concepçÔes de mundo e sociedade. Entre esses destacam-se Arthur Schopenhauer (1788-1860), SĂžren Kierkgaard (1813-1855) e Friedrich Nietzsche (1844-1900). Tomando como ponto de partida a filosofia kantiana, Schopenhauer defende que o mundo dos fenĂŽmenos – o mundo que representamos em ideias e que julgamos compreender – nĂŁo passa de uma ilusĂŁo e que a força motriz por trĂĄs de todos os nossos atos e ideias Ă© uma vontade cega, indomĂĄvel e irracional. Kierkgaard condena todas as grandes elaboraçÔes sistemĂĄticas, universalizantes e abstratas da filosofia. Considerado um precursor do existencialismo, Kierkgaard enfatiza que as questĂ”es prementes da vida humana sĂł podem ser superadas por uma atitude religiosa; essa atitude, no entanto, demanda uma escolha individual e passional contra todas as evidĂȘncias, atĂ© mesmo contra a razĂŁo.[62] Nietzsche, por sua vez, anuncia que “Deus estĂĄ morto”; e declara, portanto, a falĂȘncia de todas as concepçÔes Ă©ticas, polĂ­ticas e culturais que se assentam na doutrina cristĂŁ. Em substituição aos antigos valores, Nietzsche prescreve um projeto de vida voluntarista aos mais nobres, mais capazes, mais criativos - em suma, Ă queles em que fosse mais forte a vontade de potĂȘncia. [63]

Filosofia do século XX



No sĂ©culo XX, a filosofia tornou-se uma disciplina profissionalizada das universidades, semelhante Ă s demais disciplinas acadĂȘmicas. Desse modo, tornou-se tambĂ©m menos geral e mais especializada. Na opiniĂŁo de um proeminente filĂłsofo: “A filosofia tem se tornado uma disciplina altamente organizada, feita por especialistas para especialistas. O nĂșmero de filĂłsofos cresceu exponencialmente, expandiu-se o volume de publicaçÔes e multiplicaram-se as subĂĄreas de rigorosa investigação filosĂłfica. Hoje, nĂŁo sĂł o campo mais amplo da filosofia Ă© demasiadamente vasto para uma Ășnica mente, mas algo similar tambĂ©m Ă© verdadeiro em muitas de suas subĂĄreas altamente especializadas.”[64]


O matemĂĄtico e filĂłsofo britĂąnico Bertrand Russell, um dos fundadores da filosofia analĂ­tica.

Nos paĂ­ses de lĂ­ngua inglesa, a filosofia analĂ­tica tornou-se a escola dominante. Na primeira metade do sĂ©culo, foi uma escola coesa, fortemente modelada pelo positivismo lĂłgico, unificada pela noção de que os problemas filosĂłficos podem e devem ser resolvidos por anĂĄlise lĂłgica. Os filĂłsofos britĂąnicos Bertrand Russell e George Edward Moore sĂŁo geralmente considerados os fundadores desse movimento. Ambos romperam com a tradição idealista que predominava na Inglaterra em fins do sĂ©culo XIX e buscaram um mĂ©todo filosĂłfico que se afastasse das tendĂȘncias espiritualistas e totalizantes do idealismo. Moore dedicou-se a analisar crenças do senso comum e a justificĂĄ-las diante das crĂ­ticas da filosofia acadĂȘmica. Russell, por sua vez, buscou reaproximar a filosofia da tradição empirista britĂąnica e sintonizĂĄ-la com as descobertas e avanços cientĂ­ficos. Ao elaborar sua teoria das descriçÔes definidas, Russell mostrou como resolver um problema filosĂłfico empregando os recursos da nova lĂłgica matemĂĄtica. A partir desse novo modelo proposto por Russell, vĂĄrios filĂłsofos se convenceram de que a maioria dos problemas da filosofia tradicional, se nĂŁo todos, nĂŁo seriam nada mais que confusĂ”es propiciadas pelas ambiguidades e imprecisĂ”es da linguagem natural. Quando tratados numa linguagem cientĂ­fica rigorosa, esses problemas revelar-se-iam como simples confusĂ”es e mal-entendidos.

Uma postura ligeiramente diferente foi adotada por Ludwig Wittgenstein, discípulo de Russell. Segundo Wittgenstein, os recursos da lógica matemåtica serviriam para revelar as formas lógicas que se escondem por trås da linguagem comum. Para Wittgenstein, a lógica é a própria condição de sentido de qualquer sistema linguístico.[65] Essa ideia estå associada à sua teoria pictórica do significado, segundo a qual a linguagem é capaz de representar o mundo por ser uma figuração lógica dos estados de coisas que compÔem a realidade.

Sob a inspiração dos trabalhos de Russell e de Wittgenstein, o CĂ­rculo de Viena passou a defender uma forma de empirismo que assimilasse os avanços realizados nas ciĂȘncias formais, especialmente na lĂłgica. Essa versĂŁo atualizada do empirismo tornou-se universalmente conhecida como neopositivismo ou positivismo lĂłgico. O CĂ­rculo de Viena consistia numa reuniĂŁo de intelectuais oriundos de diversas ĂĄreas (filosofia, fĂ­sica, matemĂĄtica, sociologia, etc.) que tinham em comum uma profunda desconfiança em relação a temas de teor metafĂ­sico. Para esses filĂłsofos e cientistas, caberia Ă  filosofia elaborar ferramentas teĂłricas aptas a esclarecer os conceitos fundamentais das ciĂȘncias e revelar os pontos de contatos entre os diversos ramos do conhecimento cientĂ­fico. Nessa tarefa, seria importante mostrar, entre outras coisas, como enunciados altamente abstratos das ciĂȘncias poderiam ser rigorosamente reduzidos a frases sobre a nossa experiĂȘncia imediata.[66]

Fora dos paĂ­ses de lĂ­ngua inglesa, floresceram diferentes movimentos filosĂłficos. Entre esses destacam-se a fenomenologia, a hermenĂȘutica, o existencialismo e versĂ”es modernas do marxismo. O filĂłsofo alemĂŁo Edmund Husserl (1859-1938) foi o fundador da fenomenologia. Para Husserl, o traço fundamental dos fenĂŽmenos mentais Ă© a intencionalidade. A estrutura da intencionalidade Ă© constituĂ­da por dois elementos: noesis e noema. O primeiro elemento Ă© o ato intencional; e o segundo Ă© o objeto do ato intencional. A ciĂȘncia da fenomenologia trata do significado ou da essĂȘncia dos objetos da consciĂȘncia. A fim de revelar a estrutura da consciĂȘncia, o fenomenĂłlogo deve pĂŽr entre parĂȘntesis a realidade empĂ­rica. Segundo Husserl, os procedimentos fenomenolĂłgicos desvelam o ego transcendental – que Ă© a prĂłpria base e fonte de unidade do eu empĂ­rico.[67] Coube a um dos alunos de Husserl, o filĂłsofo alemĂŁo Martin Heidegger (1889-1976), construir uma filosofia que mesclasse a fenomenologia, a hermenĂȘutica e o existencialismo. O ponto de partida de Heidegger foi a questĂŁo clĂĄssica da metafĂ­sica: "o que Ă© o ser?"; mas na abordagem de Heidegger, a resposta a essa questĂŁo passa por uma anĂĄlise dos modos de ser do ser humano – que foi por ele denominado Dasein (Ser-aĂ­). O Dasein Ă© o Ășnico ser que pode se admirar com a sua prĂłpria existĂȘncia e indagar o sentido de seu prĂłprio ser. O modo de existir do Dasein estĂĄ intimamente conectado com a histĂłria e a temporalidade e, em vista disso, questĂ”es sobre autenticidade, cuidado, angĂșstia, finitude e morte tornam-se temas centrais na filosofia de Heidegger.[67]

Cronologia bĂĄsica                                                      


Ver pĂĄgina anexa: Cronologia bĂĄsica da filosofia

Ver tambĂ©m                                                                     


Notas e referĂȘncias


  1. ↑ a b c Teichman, J.; Evans, K. C. Philosophy: a beginner's guide. 3rd ed. Oxford: Blackwell.
  2. ↑ Bailey, Andrew. First philosophy: values and society. Broadview Press, 2004. ISBN 9781551116570. p. 1.
  3. ↑ Versão eletrînica do diálogo platînico Teeteto. p. 16.
  4. ↑ Aristotle, Metaphysics. The Internet Classics Archive.
  5. ↑ a b c Magee, Bryan. HistĂłria da Filosofia. SĂŁo Paulo: EdiçÔes Loyola, 2001. pp. 7-9
  6. ↑ a b Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. pág. 19.
  7. ↑ (em francĂȘs) R. BödĂ©us, "philosophĂ­a", in (dir.) Jacob, AndrĂ©, EncyclopĂ©die philosophique universelle, vol. 2: Les notions philosophiqe, tome 2, Paris, PUF.
  8. ↑ (em francĂȘs) AlquiĂ©, F., Signification de la philosophie, Paris, 1971.
  9. ↑ Simmel, Georg. "On the nature of philosophy". In: A Collection of Essays. pág. 282.
  10. ↑ MetafĂ­sica, Livro I, capĂ­tulo 2. Na edição da coleção Os Pensadores de 1973 (1.ÂȘ ed.), o trecho encontra-se Ă  pĂĄg. 213.
  11. ↑ a b c d e Ferrater-Mora, JosĂ©. DicionĂĄrio de Filosofia. SĂŁo Paulo: Loyola, 2.a ed., 2005. Tomo II. pp. 1044-1050.
  12. ↑ Lindberg, D. The beginnings of western science. Chicago: University of Chicago Press, 2007. ISBN 9780226482057. p. 242.
  13. ↑ “Philosophia est rerum humanarum divinarumque cognitio cum studio bene vivendi coniuncta.” Etymologiae. Tradução para o inglĂȘs: The etimologies of Isidore of Seville. Cambridge: C.U.P. p. 79.
  14. ↑ Ver, por exemplo, o aforismo III do Novum Organum: "CiĂȘncia e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois a natureza nĂŁo se vence, se nĂŁo quando se lhe obedece. E o que Ă  contemplação apresenta-se como causa Ă© regra na prĂĄtica" (SĂŁo Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção "Os Pensadores").
  15. ↑ Descartes, R. PrincĂ­pios da Filosofia. Lisboa: EdiçÔes 70. p. 22.
  16. ↑ Quinton, Anthonny. Filosofia. Crítica: revista de filosofia. Acesso em 26/01/2011.
  17. ↑ Prado Jr., Caio. O que Ă© filosofia. SĂŁo Paulo: Brasiliense, 1981
  18. ↑ Strawson, Peter. Filosofia como Gramática Conceptual. Acesso em 06/12/2010
  19. ↑ Russell, B. Os problemas da filosofia. Capítulo 15.
  20. ↑ Popper, K. Conjecturas e RefutaçÔes. 3a. ed. Brasilia: EdUnB, 1994. Cap. 4, "Retorno aos PrĂ©-SocrĂĄticos", pp. 163s.
  21. ↑ Steup, M. The Analysis of Knowledge. Stanford Encyclopedia of Philosophy. Acesso em: 28/01/2011.
  22. ↑ Broad, C. D. Some Methods of Speculative Philosophy. Acesso em 28/01/2011.
  23. ↑ Blackburn, S. Pense: uma introdução à filosofia. Lisboa: Gradiva, 2001. ISBN 9789726627906. Cap. 2.
  24. ↑ Bunnin, N.; Yu, J (eds.) The Blackwell dictionary of Western philosophy. Blackwell, 2004. Blackwell Reference Online. Acesso: 12 de março de 2011.
  25. ↑ a b c d e Solomon, R. C. & Higgins, K. M. The big questions: a short introduction to philosophy. p. 7.
  26. ↑ Copi, I. M. Introdução Ă  lĂłgica. 2.ÂȘ ed. SĂŁo Paulo: Mestre Jou, 1978. p. 19.
  27. ↑ Coupe, Laurence. Myth. 2nd. ed. London; New York: Routledge, 2009. p. 9. ISBN 9780415442848
  28. ↑ Morgan, Katheryn. Myth and Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. p. 17. ISBN 0521621801
  29. ↑ Vernant, Jean-Pierre. Myth and Society in Ancient Greece. London: Methuen, 1982: "o conceito de mito peculiar à antiguidade clássica tornou-se, assim, claramente definido pela oposição entre mythos e logos, desde então vistos como termos separados e contrastantes" (p. 187).
  30. ↑ Aristóteles. Metafísica, III, 4.
  31. ↑ Reale, Giovanni; Antiseri, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 1990. ISBN 8505010760. V. 1. pp. 14-16.
  32. ↑ Reale, Giovanni; Antiseri, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 1990. ISBN 8505010760. V. 1. p. 26.
  33. ↑ Bornheim, G. Os filĂłsofos prĂ©-socrĂĄticos. p. 13.
  34. ↑ Guerreiro, Mario A. L. PrĂ©-socrĂĄticos: a invenção da filosofia. p. 40.
  35. ↑ Chauí, M. Introdução à história da filosofia. p. 95.
  36. ↑ Chauí, M. Introdução à história da filosofia. p. 105.
  37. ↑ Zilles, U. Teoria do conhecimento. p. 59.
  38. ↑ Stone, I. F. O julgamento de Sócrates. p. 61.
  39. ↑ Morente, Manuel García. "Lecciones Preliminares de Filosofía," in Obras Completas. Barcelona: Anthropos; Madrid: Fundación Caja de Madrid, 1996. V. I. ISBN 8476584962, pp. 81-87
  40. ↑ Durant, Will. A História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, s/d. ISBN 8535106952. p. 75
  41. ↑ Reale, Giovanni. História da filosofia antiga: os sistemas da Era Helenística. São Paulo: Loyola, 2008. pp. 214s.
  42. ↑ Reale, Giovanni. História da filosofia antiga: os sistemas da Era Helenística. São Paulo: Loyola, 2008. p. 361.
  43. ↑ Cooper, D. E. Filosofias do Mundo. São Paulo: Loyola, 2002. ISBN 8515023164. p. 167.
  44. ↑ Segundo Rafael Guerrero, "houve filosofia nessa Ă©poca porque houve continuidade e sobrevivĂȘncia da filosofia antiga: os medievais se preocuparam em assimilar, Ă  medida que lhes foi possĂ­vel, a prĂĄtica e o saber das geraçÔes anteriores." Historia de la FilosofĂ­a Medieval. p. 10
  45. ↑ The Blackwell Dictionary of Western Philosophy. Verbete "Medieval Philosophy": "O tema central da filosofia medieval foi a tentativa de unir a fĂ© Ă  razĂŁo."
  46. ↑ Gracia, Jorge. Medieval Philosophy. In: The Blackwell Companion to Philosophy. pp. 619s
  47. ↑ Charles Schmitt e Quentin Skinner (eds.), The Cambridge History of Renaissance Philosophy. Cambridge University Press, 1988, p. 5, define o perĂ­odo da filosofia do Renascimento como o intervalo que vai “da Ă©poca de Ockham atĂ© os trabalhos revisionistas de Bacon, Descartes e seus contemporĂąneos”.
  48. ↑ Copenhaver, B.; Schmitt, C. Renaissance Philosophy, Oxford University Press, 1992, p. 4: “pode-se considerar como marco da filosofia da Renascença o amplo e acelerado interesse, estimulado por novos textos disponĂ­veis, por fontes primĂĄrias do pensamento grego e romano que eram atĂ© entĂŁo desconhecidos ou dos quais pouco se sabia ou pouco se havia lido”.
  49. ↑ Gracia, Jorge. In: Bunnin, N.; Tsui-James, E.P. (eds.), The Blackwell Companion to Philosophy, Blackwell, 2002, p. 621: "os humanistas ... recolocaram o homem no centro das atençÔes e canalizaram seus esforços no sentido de recuperar e transmitir o saber clĂĄssico, particularmente o da filosofia de PlatĂŁo.”
  50. ↑ von Fritz, Kurt; Rev. Maurer, Armand; Levi, Albert W.; Stroll, Avrum; Wolin, Richard, «Western philosophy» (em inglĂȘs), EncyclopĂŠdia Britannica Online
  51. ↑ Ver §4 da introdução de An essay concerning human understandig, de John Locke; a introdução do Tratado da natureza humana, de David Hume; e o prefácio da primeira edição da Crítica da razão pura, de Kant.
  52. ↑ Russell, Bertrand. History of Western Philosophy. London: Routledge, 2004. ISBN 9780415325059. p. 511.
  53. ↑ Descartes, R. Discurso do MĂ©todo. 4ÂȘ. parte.
  54. ↑ Cottingham, J. Descartes. São Paulo: Ed. Unesp, 1999. p. 24.
  55. ↑ Magee, Bryan. HistĂłria da Filosofia. SĂŁo Paulo: EdiçÔes Loyola, 2001. p. 83
  56. ↑ Durant, Will. A História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, s/d. ISBN 8535106952. p. 247
  57. ↑ Solomon, R. C; Higgins, K. M. The Big Questions. pp. 135s.
  58. ↑ Cooper, D. E. Filosofias do Mundo. p. 371.
  59. ↑ Russell, B. História do Pensamento Ocidental. pp. 442s.
  60. ↑ William Outhwaite (ed.), The Blackwell dictionary of modern social thought. p. 44.
  61. ↑ Hegenberg, L. Filosofia moral. V. 1 (Ética). Rio de Janeiro: E-papers, 2010. ISBN 8576502607. pp. 115-22.
  62. ↑ Solomon, R. C. & Higgins, K. M. The big questions: a short introduction to philosophy. 8th ed. ISBN 9780495595151. p.66
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  64. ↑ Soames, Scott. Philosophical analysis in the twentieth century. Princeton: Princeton University Press, 2003. V. 2. p. 463
  65. ↑ Glock, Hans-Johann. Dicionário Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. ISBN 8571104409. p. 237 (Verbete "Lógica").
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  67. ↑ a b Bunnin, N.; Yu, J (eds.) The Blackwell dictionary of Western philosophy. Blackwell, 2004. Blackwell Reference Online. Acesso em 28/03/2011.

Bibliografia sugerida


Livros introdutĂłrios

  • BLACKBURN, Simon. Pense: uma introdução Ă  filosofia. Lisboa: Gradiva, 2001. ISBN 9789726627906.
  • BUNNIN, Nicholas; TSUI-JAMES, E. P. (Orgs.) CompĂȘndio de Filosofia. 2.ÂȘ ed. SĂŁo Paulo: Loyola, 2007. ISBN 9788515030477.
  • CHAUÍ, Marilena. Convite Ă  Filosofia. 7. ed. 2. reimp. SĂŁo Paulo: Ática, 2000.
  • NAGEL, Thomas. Que Quer Dizer Tudo Isto? Uma iniciação Ă  filosofia. Lisboa: Gradiva: 1995. ISBN 9789726624219.
  • PAPINEAU, David (Org.) Filosofia: grandes pensadores, principais fundamentos e escolas filosĂłficas. SĂŁo Paulo: Publifolha, 2009. ISBN 9788579141058.

Antologias

  • BONJOUR, Laurence; BAKER, Ann. Filosofia: textos fundamentais comentados. 2.ÂȘ ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. ISBN 8536321199.
  • MARCONDES, Danilo. Textos BĂĄsicos de Filosofia: dos prĂ©-sĂłcrĂĄticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. ISBN 9788571105201.
  • NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das origens Ă  Idade Moderna. Rio de Janeiro: Globo, 2005. ISBN 8525038997.
  • VVAA. Os FilĂłsofos atravĂ©s dos Textos: de PlatĂŁo a Sartre. SĂŁo Paulo: Paulus, 1997. ISBN 8534909806.

IntroduçÔes à história da filosofia


Obras de referĂȘncia

  • BLACKBURN, Simon. DicionĂĄrio Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. ISBN 8571104026.
  • BRANQUINHO, JoĂŁo ; MURCHO, DesidĂ©rio ; GOMES, Nelson Gonçalves (Orgs.) EnciclopĂ©dia de Termos LĂłgico-FilosĂłficos. SĂŁo Paulo: Martins Fontes, 2006. ISBN 8533623259.
  • FERRATER-MORA, JosĂ©. DicionĂĄrio de Filosofia. 2ÂȘ. ed. SĂŁo Paulo: Loyola, 2004. 4v. ISBN 8515018691.

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